Fruto das transformações culturais que têm lugar no período
após a II Guerra Mundial (1939-1945), e que entre nós se traduz no crescimento
das cidades e na diversificação de seus equipamentos culturais, o Museu de Arte
Moderna, criado em 1948, no Rio de Janeiro, acompanha o modelo do Museum of
Modern Art - MoMA [Museu de Arte Moderna], em Nova York (1929), do mesmo modo
que o Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP (1948). Um "museu
vivo", com exposições, música, teatro e cinema, além de debates: eis o intuito
central da instituição, presidida pelo colecionador e industrial Raymundo
Ottoni de Castro Maya (1894 - 1968). As diferenças mais evidentes entre o Museu
de Arte Moderna do Rio de Janeiro e o de São Paulo parecem ser a abertura do
museu carioca às artes aplicadas, sobretudo ao design e ao desenho industrial,
e sua vocação educativa, que se concretiza por um serviço de biblioteca atuante
(a cargo da crítica literária Lúcia Miguel Pereira) e por ateliês abertos ao
público. Diversos profissionais são convidados para implantar as atividades do
museu: Candido Portinari (1903 - 1962), pintura; Bruno Giorgi (1905 - 1993),
escultura; Alcides Miranda (1909 - 2001), arquitetura; Luís Heitor (1905 -
1992), música; Santa Rosa (1909 - 1956), teatro; e Luís Roberto Assumpção
Araújo, cinema. O museu funciona inicialmente em salas cedidas pelo Banco Boa
Vista, na praça Pio X, passando em seguida para um espaço improvisado entre os
pilotis do prédio do Ministério da Educação e Saúde, onde é aberta ao público a
mostra Pintura Européia Contemporânea (janeiro de 1949). Das 32 obras
apresentadas nesta exposição, 12 irão compor o acervo do museu, que contará em
seguida com doações de Raul Bopp (1898 - 1984), Marques Rabelo e Oscar Niemeyer
(1907), entre muitos outros.
O ano de 1952 marca uma nova fase do museu, inaugurada com a
exposição dos artistas premiados na 1ª Bienal Internacional de São Paulo (o que
ocorrerá, a partir daí, regularmente) e com a ampliação do acervo, graças ao
comando da sra. Niomar Moniz Sodré, então diretora executiva, cujo marido,
Paulo Bittencourt é proprietário e diretor do jornal Correio da Manhã. O acervo
do MAM - composto até então por quatro obras doadas pela Bienal, por uma
pequena doação do MoMA e por contribuições particulares de artistas e colecionadores
-, passa a contar nesse momento com obras de artistas estrangeiros adquiridas
na Europa como André Lhote (1885 - 1962), Yves Tanguy (1900 - 1955), Georges
Mathieu (1921), Fernand Léger (1881 - 1955), Alberto Giacometti (1901 - 1966),
entre outros. Dentre os artistas nacionais, além de Portinari, Di Cavalcanti
(1897 - 1976), Lasar Segall (1891 - 1957) e Guignard (1896 - 1962), o acervo do
MAM se distingue por possuir uma expressiva coleção de Oswaldo Goeldi (1895 -
1961), com desenhos e gravuras. É Niomar quem convida o arquiteto Affonso Reidy
(1909 - 1964) para projetar uma nova sede para o museu, em área de 40 mil
metros quadrados doada pela prefeitura do Rio, no aterro do Flamengo, com
projeto paisagístico de Burle Marx (1909 - 1994). As obras são iniciadas em
1954 e inauguradas em diferentes momentos: o Bloco-Escola, em 1958; o Bloco de
Exposições, em 1967 (com mostra de Lasar Segall) e o Bloco-Teatro, inacabado. O
projeto de Reidy segue as sugestões do racionalismo arquitetônico que orientam
seus diversos trabalhos. No caso do MAM, especificamente, cabe destacar o
emprego da estrutura vazada e transparente, a planta livre do espaço de
exposições (que prevê a flexibilidade da museografia) e a atenção concedida à
iluminação.
Datam também dessa nova fase do museu os cursos, para
adultos e crianças, a cargo de colaboradores, como Ivan Serpa (1923 - 1973),
Margareth Spencer (1914), Décio Vieira (1922 - 1988), Fayga Ostrower (1920 -
2001) etc. O ateliê infantil, coordenado por Serpa, conhece sucesso imediato. O
de adultos, por sua vez, está na origem do Grupo Frente, fundado por Aluísio
Carvão (1920 - 2001), Carlos Val (1937), Décio Vieira, Ivan Serpa, Lygia Clark
(1920 - 1988), Lygia Pape (1927 - 2004) e Vicent Ibberson (19--), e ao qual
aderem em seguida Hélio Oiticica (1937 - 1980), Franz Weissmann (1911 - 2005),
Abraham Palatnik (1928), entre outros. Em 1955, têm início as atividades da
Cinemateca, com a mostra internacional Dez Anos de Filmes de Arte, e a oferta
de cursos regulares. Um pouco mais tarde, em 1959, começa a funcionar o ateliê
de gravura, tendo como professores Johnny Friedlaender (1912 - 1992) e Edith
Behring (1916 - 1996), e ao qual aderem, entre muitos outros, Maria Bonomi
(1935), Anna Letycia (1929), Roberto de Lamonica (1933 - 1995).
O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro é palco de
importantes mostras de artistas nacionais e estrangeiros, além de abrigar
conferencistas internacionais. A instituição acolhe grupos e movimentos de
vanguarda da arte nacional nos anos de 1950 e 1960, como é possível aferir por
mostras como: Exposição do Grupo Frente (1955), Exposição Nacional de Arte
Concreta (1957) e mostra da Arte Neoconcreta (1959). Tropicália (1967), obra
célebre de Hélio Oiticica, na origem do movimento tropicalista nas artes, é
exposta na mostra Nova Objetividade Brasileira, realizada no museu em abril de
1967. O incêndio ocorrido em 1978, quando de uma retrospectiva histórica do
uruguaio Torres-Garcia (1874 - 1949), marca um momento trágico na história do
museu, que tem parte do seu acervo e instalação destruídos. Em 1992,
reorganiza-se o acervo com a transferência, para o museu, em regime de
comodato, de parte da coleção de obras brasileiras de Gilberto Chateaubriand.
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